A Filosofia Ágil

Nesta aula (40 min.) você vai entender o contexto no qual o Ágil surgiu e o que ele se propõe a resolver. Você verá o duelo que os valores ágeis travam com os conceitos tidos como tradicionais e conhecerá também outros elementos práticos de como o mundo mudou e como novos valores começam a se firmar (dentre eles o ágil) nesta era do trabalhador do conhecimento. Com isso, você terá as principais bases teóricas para se aprofundar posteriormente nos conceitos e práticas ágeis.

Ao entrar em contato pela primeira vez com o Ágil, principalmente para quem não está inserido na indústria de tecnologia, a impressão de se tem é semelhante talvez a de uma iniciação na fé: Discutimos a filosofia; Discorremos sobre os valores; Pregamos a crença; Criticamos o mal que existe entre nós; Falamos de rituais e cerimônias; Ou seja, é praticamente um convite à conversão! (e alguns realmente levam isso ao pé da letra!).

Na busca por melhorar sua organização, o Ágil é uma das linhas de atuação e talvez a que ganhou até agora mais destaque e adeptos (fiéis 🙂 ). Entretanto, outras linhas de pensamento, inspiradas ou não no ágil, também se apresentam como opções, trazendo práticas e/ou filosofias interessantes para a organização do trabalho, como o Lean para desenvolvimento de software, cujo método principal é o Kanban; Lean Startup; Gestão 3.0; dentre outros.

Por que nasceram novas filosofias de trabalho?

Mas por que foi necessário rever os conceitos de organização e gestão do trabalho? Essa é uma ótima pergunta. Se os conceitos de gerenciamento que nasceram na bem sucedida Revolução Industrial foram tão importantes que fizeram, de fato, uma revolução, por que hoje são colocados em dúvida ou não se aplicam mais? De uma forma bem direta, o motivo de emergir novas formas de organização do trabalho se dá ao fato de que a natureza da maioria dos trabalhos mudou. É como se quiséssemos tocar uma fita de VHS em nosso player de DVD (os mais novos não vão entender essa comparação). Não dá! O player evoluiu e não usa mais esse tipo de tecnologia. E a nova organização do trabalho acaba sendo uma tecnologia social que evoluiu mais rápido do que o gerenciamento da mesma foi capaz de acompanhar. Tanto é que alguns vão dizer até que o gerenciamento tradicional está morto (Niels Pflaeging). Outros dirão, entretanto, que falar sobre a morte do gerenciamento é uma estupidez (Jurgen Appelo).

O que significa que a ‘natureza’ do trabalho mudou?

Boa pergunta novamente!

O trabalhador da Revolução Industrial, por exemplo, era apenas uma peça na grande engrenagem de linhas de produção que se erguiam na época. Seu trabalho era metódico e repetitivo, simulando o comportamento de uma máquina. Existiam aqueles que “pensavam” e aqueles que “faziam” e essa divisão acontecia propositalmente para que a produtividade fosse maior. O trabalhador era tido como alguém que não queria trabalhar e precisava ser estimulado, seja pela cenoura ou pelo chicote. Para aqueles que conhecem o que é um VHS também vão se lembrar do filme do Charlie Chaplin, Tempos Modernos, que ilustra bem esse tipo de trabalho.

Hoje vivemos uma outra revolução. Alguns chamam de Era do Conhecimento outros da Informação, mas o fato é que agora a natureza do trabalho requer muito mais criatividade e conhecimento. Pare por um instante e pense num dia normal do seu trabalho. É possível descrever exatamente o que irá acontecer? Que coisas você irá fazer? A ordem que irá realizá-las? O que irá escrever, com quem você vai conversar e sobre quais assuntos irá discutir? Algo tão certo quanto apertar parafusos?

Além da complexidade do trabalho nesta era do conhecimento, as motivações do profissional também mudaram. Somos profissionais cujo chicote e a cenoura já não trazem resultados. Ao contrário, são nocivos para o tipo de trabalho que realizamos. Buscamos mais elementos motivacionais intrínsecos como Propósito, Autonomia e Maestria (Daniel Pink). 

E o Ágil?

O Ágil nasceu formalmente em 2001, quando um grupo de 17 pessoas, em sua maioria da indústria de software, se reuniu para discutir esse fenômeno da mudança da natureza do trabalho e as abordagens mais aderentes para lidar com ele. Discutiram práticas que vinham sendo aplicadas com sucesso neste novo contexto e identificaram os valores e os princípios que estavam por detrás destas práticas. Desse encontro resultou o que seria conhecido então como o Manifesto Ágil, com seus 4 valores e 12 princípios. 

A essência do Ágil está principalmente em seus 4 valores, que não prescrevem, todavia, o que deve ser feito, mas orienta sobre uma intenção para se alcançar melhores resultados neste universo que requer novo paradigma. De um lado estão os novos valores, aqueles que passaram a ser mais valorizados, fazendo contraste com os Valores até então vividos, mas que são agora, para estes desbravadores, menos perseguidos (apesar de ainda os valorizarem de alguma forma).

No vídeo abaixo eu comento um pouco mais sobre esse contexto e vou além ao comentar sobre os 4 valores e alguns dos princípios do Manifesto Ágil.