O profissional do conhecimento hoje é um guerreiro na guerra contra as interrupções: Tem que lutar contra o celular e as redes sociais; contra aquele cara que chega tarde ao escritório e quer falar “oi” para todo mundo; contra a falta de clareza das áreas de negócio; contra o RH que vem apresentar o novo contratado; contra o chefe que muda de ideia; contra aquele cafezinho fora de hora do cara que chegou tarde; contra as urgências não urgentes; contra os próprios colegas de trabalho que estão comentando em voz alta o último episódio de Game of Thrones, dentre outros cavaleiros da morte da produtividade.
Se no final do dia, apesar de todas estas interrupções, a pessoa ainda conseguir atingir seus objetivos planejados, é porque ficou além do horário ou porque é um ser supremo do autocontrole.
Sério mesmo: alguém tem visto um retorno proporcional ou maior do investimento feito em ambientes abertos (open spaces)? Ao que me parece, as empresas têm pago os colaboradores para se divertirem, tomarem um bom café e, se der tempo, fazer uma coisinha ou outra para a empresa. Talvez isso justifique o bem-visto estereótipo do profissional que fica até mais tarde ou que vira a noite para entregar o combinado. Ainda valorizamos o perfil do herói que só precisou o ser porque ficou conversando com a mocinha o filme inteiro.
Fico imaginando se algum PMO ainda considera um dia produtivo como sendo 8 horas. Tenho minhas dúvidas se seriam até mesmo 4.
Uma coisa que não foi suficientemente trabalhada é a contrapartida desse mundo “aberto”: Que para se ter liberdade, deve-se ter algumas responsabilidades e que para se ter um ambiente com um potencial tão grande de comunicação é necessário uma disciplina tão grande quanto. E disciplina, cá entre nós, não é uma qualidade que temos bem desenvolvida.
O ambiente e as regras do contexto ajudariam na promoção de alguma disciplina: Salinhas de concentração e trabalho remoto são boas alternativas que poderiam ser combinadas com o sufocante e lindo ambiente aberto de trabalho. Nas referências abaixo você encontra algumas matérias a respeito.
Em todo caso, meu ponto aqui é que este guerreiro indisciplinado, que é o profissional do conhecimento, muitas vezes perde suas batalhas. Sufocado e conivente, pois “se não pode vencê-los, junte-se a eles“, porque não evoluiu com as armas apropriadas para esta guerra. E que talvez as empresas mais bem sucedidas do futuro sejam aquelas que consigam ter mais disciplina do que aquela “pegada de inovação”. Quem diria, hein?
Referências:
- Por que o trabalho não acontece no trabalho? Jason Fried
- Como acabar com as interrupções no trabalho (Exame)