“Sua benção vó!” — chega o neto, ansioso para comer o doce de leite recém saído da forma.
“Deus te abençoe” — responde a avó terminando de desformar a última receita.
Ambos se sentam para comer e tomar café e depois de um breve repouso a avó diz ao neto:
“Acho que nunca te perguntei, mas você trabalha com quê?”
O neto, surpreendido pela pergunta e despreparado para responder, diz: “é… hummm… eeeu… ajudo equipes a se auto-organizarem vó” — e imediatamente percebeu que não foi uma boa resposta.
“hummm sei…” — diz a vó educadamente — “e o que é isso?” — levando um pedaço de doce à boca e fazendo cara de interessada. O neto, reconhecendo que não usou o termo mais simples, adiciona:
“Ah vó, é quando as pessoas conseguem se organizar sozinhas para fazer o trabalho, sabe?” — meio inseguro se a avó iria entender.
“Certo… Mas você faz o quê, assim… ” — diz a avó reticente, ignorando a última frase do neto, enquanto colocava mais café na xícara.
Neto: “Quando as pessoas sabem trabalhar sozinhas elas trabalham de forma mais efetiva…” — tentando retomar de onde parou.
Vó: “Sei… é um trabalho temporário então né?” — e mudando o tom de voz para o modo ‘conselho’, a vó acrescenta — “Não seria melhor você ver alguma coisa com seu primo Vinícius? Parece que ele tá bem lá onde ele tá… outro dia chegou de carrão aqui pra ver a vó.” — diz a avó orgulhosa.
Neto: “O Vinícius é engenheiro vó!”
Vó: (convicta) “Então! Você fala com ele. Quem sabe ele tem um espaço pra você lá!” — complementa a vó como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Neto: “Meu trabalho, vó, é com T.I.” — e corrige em tempo — “… com tecnologia… “
Vó: “É você que programa aqueles computadores grandes?”
Neto: “Eu ajudo as equipes a pensarem.”
Vó: “Ah, tipo um psicólogo…”
Neto: “Não vó… Tipo um coach”
Vó: “Coutche? Que negócio mais estranho! Na minha época era comum ser advogado ou médico. Por que você não faz medicina… uma profissão tão linda… igual seu tio Carlos.”
Neto: (sem perder a paciência, mas se esforçando) “… eu ajudo os profissionais a se superarem nas tarefas do dia a dia! A senhora não acha isso importante?”
Vó: “Aaaah sim!! Eu sei o que é…” — cuidando pra ver se o forno não estava ligado — “… outro dia eu vi na televisão uma palestra do Roberto Shinyashiki que falava justamente sobre isso mesmo… se superar…”
Neto: “…” — querendo finalizar logo a conversa — “eu sou tipo um gerente Vó… isso… um Gerente!”
Vó: “Um gerente?!” — diz a vó surpresa e animada — “por que não me disse antes?” — e dá um abraço apertado sufocando o neto — “esse meu menino vale ouro!”