O Novo Gestor – Parte III — O Movimento

Se você está acompanhando a série #onovogestor sabe que estou buscando definir e posicionar os conceitos modernos de gestão de uma forma não dogmática ou apaixonada. Minha intenção é mostrar que:

* O Gestor Tradicional ganhou um estereótipo ruim;
* O Agile Coach não substituiu o Gestor Tradicional;
* Há conceitos e abordagens que fogem a ambos;
* O “Novo Gestor” ainda está nascendo.

Em outras palavras: o Agile Coach é insuficiente, o Gestor Tradicional não se desenvolveu e as empresas carecem de recursos pouco desenvolvidos por ambos.

Nesta linha de raciocínio, estou lidando nestes últimos artigos com o conceito de gestão moderna mais popular: o Ágil, a fim criar um baseline sobre o qual possamos propor algo novo — nem Ágil nem Tradicional — mas que enderece algumas necessidades atuais das empresas. Aos escrever os últimos artigos, outros aspectos de análise se mostraram necessários antes de convergirmos para a proposta do Novo Gestor. Por exemplo: a revisão dos próprios elementos do Tradicional. Então, paciência! Será uma longa jornada.

Abaixo daremos mais um passo no sentido de posicionar o fenômeno Ágil neste mosaico conceitual que posteriormente evidenciará as lacunas ainda a serem preenchidas.

O MOVIMENTO ÁGIL

Ao universo Ágil expandido eu dou o nome de Movimento Ágil.

Falamos no primeiro post que Ágil é um mindset cujas diretrizes estão no seu Manifesto. Entretanto, não posso deixar de analisar que temos agora algo muito maior que os 4 valores e 12 princípios.

Fala-se hoje de RH Ágil; Aprendizado Ágil; Gestão Ágil de Pessoas; Hierarquia Organizacional Ágil, Cidades Ágeis… ao passo que nascem novas técnicas que se intitulam Ágeis todos os dias.

Logo, se o Ágil, como defendi, se encerra nas proposições do Manifesto, o Movimento Ágil, por outro lado, não tem uma forma. É algo que realmente “se movimenta”; tem vida própria; e que abarca de tal sorte outros conceitos que não é possível listar suas propriedades ou tudo o que ele contém.

Quando criei o Agile Coach Tool, por exemplo, o apresentei como uma ferramenta Ágil. Todavia nunca me preocupei em fazer qualquer tipo de fundamentação do ACT com o Manifesto. E, analisando bem, a dinâmica de 1on1 e as entrevistas que sugiro na ferramenta são passíveis de serem aplicadas em qualquer contexto — mesmo os mais tradicionais — obtendo benefícios similares.

Ou seja, fui levado pelo Movimento! Uma nova ferramenta “Ágil” surgiu — mesmo sem ter ligações diretas com o Manifesto.

Outro exemplo clássico aconteceu com o Método Kanban do David Anderson que também foi tomado pela onda do Movimento ao ponto de ser listado hoje entre os métodos Ágeis — mesmo seus autores negando essa associação. Vemos isso acontecer em eventos, na literatura e no anúncio de vagas de emprego frequentemente.

Outros conceitos, ainda, ganharam o título Ágil mesmo sem a pretensão de sê-lo como o próprio Design Thinking; Canvas de todos os tipos; a Análise Sistêmica; Conceitos de motivação do profissional do conhecimento baseada em fatores intrínsecos; estruturas hierárquicas achatadas; Técnicas de Aprendizado; etc.

O movimento é algo vivo, sem forma definida e que não tem um controle oficial central.

As Consequências do Movimento Ágil (MoA)

Por um lado, o MoA fez a *ideia* Ágil se difundir. Foi graças ao Movimento, que não se limitou ao Manifesto, que as reflexões sobre um novo paradigma de gestão chegaram a vários setores da economia — a ponto de penetrar o mercado mais conservador.

Foi o fenômeno do MoA que fortaleceu a comunidade ao seu redor. Olhando por uma perspectiva tribal, a criação de um “inimigo” comum, a.k.a Tradicional, reforçou o sentimento de pertencimento e as crenças dos indivíduos. Ao meu ver, ponto positivo!, pois ajudou a promover um pensamento mais adequado ao trabalho do conhecimento, questionando o paradigma anterior.

Por outro lado, quanto mais o Movimento Ágil ele se expande, mais desfigurado fica.

O Scrum ainda é confundido com “ser Ágil” e eu ousaria dizer que mais de 80% de quem diz fazer Ágil hoje não conhece o Manifesto.

Outra consequência negativa do MoA é que a “tribo Ágil”, apesar de inevitável enquanto fator social, se fechou num corpo de conhecimento limitado. É o que chamei no primeiro post de “Ser Ágil” — quando esse “Ser” não estuda ou explora conceitos fora da caixinha Ágil.

Tenho entrevistado profissionais para os papéis de Gerente de Projetos, Scrum Master e Agile Coach e acredito que o nível de preparação que o antigo Gerente de Projetos tinha, mesmo iniciante, era maior que o repertório que os atuais papéis modernos apresentam.

Algumas empresas tentam suprir esta carência com treinamentos, formação para papéis específicos, certificações e capacitações mais abrangentes, o que ajuda sim a melhorar as bases do profissional. Porém, ainda acredito que mesmo tendo algumas técnicas abordadas em profundidade, elas ainda se limitam ao escopo de processos das equipes.

De tudo isso, o que vemos são profissionais confusos ou dogmatizados numa aplicação que facilite e “resuma” o Ágil: no caso o Scrum. E por ser o Scrum tão simples e razo, a pessoa pode perder muito tempo olhando só pra ele. Sinto pelo XP não ter ganhado tanta força no mercado como o Scrum, pois vejo no Extreme Programming elementos mais nobres e fiéis ao Manifesto.


E você, percebe os benefícios e possíveis problemas do Movimento Ágil atualmente?

Veja também a Parte I | Parte II

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