ENTRE IDEÓLOGOS E OPORTUNISTAS
Dez anos atrás estávamos criticando ferozmente uma abordagem de gestão como se houvesse alguém do outro lado para se defender.
Pela ausência de um antagonista, a tribo Tradicional nunca foi uma tribo — pelo menos não uma tribo forte. Cultivavam seus símbolos, usavam o MS Project, mas não por acreditarem numa ideia melhor que outras mas sim por não haver outras opções.
Com o nascimento do Ágil “nasce” também o Tradicional pela necessidade de representar a antiga forma de se fazer as coisas e sobre o qual a recém comunidade ágil começa atacar — sem existir de fato uma guerra declarada.
Nasce aqui o ideólogo ágil que vê na agilidade, agora sim, uma ideia melhor que as outras e um subterfúgio perfeito para encampar mudanças culturais legítimas e necessárias.
Entretanto, apesar da adequação necessária no método e na cultura, trazidos pelo Ágil, os movimentos extrapolaram os limites ocupando espaços e se tornando o pensamento hegemônico que vemos hoje. Não seria ruim, todavia, se não tivessem deixado de lado alguns bons valores do Tradicional e se não houvesse uma aplicação oca galopante dos frameworks. Virou a ideia pela ideia. Ideologia.
É nesse contexto que surge nosso segundo personagem: o oportunista.
Há 2 tipos de oportunistas: os que se aproveitam da energia cinética da onda Ágil para consolidá-la eternamente e os que buscam fortalecer sua tribo cuspindo no prato que um dia já comeu. O primeiro gera fragilidade; o segundo não agrega nada. Ambos se aproveitam.
O oportunista que busca consolidar a agilidade de forma perpétua é aquele que aprendeu um ou dois “truques ágeis” e parou ai. Aplica na sua empresa ganhando elogios por um tempo ou faz treinamentos num mercado sedento pela novidade, doutrinando uma forma de pensar única.
O segundo oportunista é aquele que começou na agilidade, trabalhou com Scrum por um tempo, se formou lendo material da comunidade Ágil, mas agora, de repente, não serve mais. Conheceu uma nova turminha e agora critica de forma generalizada o Scrum Master e o Agile Coach para reafirmar seus novos paradigmas.
Neste segundo grupo há muitos agilistas enrustidos, trabalhando em Sprints, enquanto não conseguem ganhar o pão de cada dia com outra coisa. Com Kanban, por exemplo.
Talvez seja um reflexo dos debates políticos que vemos no brasil. Sobra paixão e falta contexto.