Construir projetos ao redor de indivíduos motivados. Dando a eles o ambiente e suporte necessário, e confiar que farão seu trabalho. (Princípio do Manifesto Ágil)
Confiança tornou-se um tema importante na comunidade Ágil. Ganhou destaque ainda maior no livro As Cinco Disfunções de um Time que apresenta a Confiança como base para a evolução de um time à alta performance.
E eles têm razão. Frente aos desafios complexos de nossas indústrias, cujas soluções emergem da interação entre os indivíduos e da discussão sincera entre eles, medo e receio são contraprodutivos. Ou seja, precisam confiar no ambiente e nas pessoas para que as melhores conexões aconteçam.
A confiança aparece no contexto Ágil se contrapondo ao microgerenciamento de outrora que ditava exatamente o quê o profissional deveria fazer e como deveria ser feito. Herança de um mundo determinista, em que o profissional era visto como uma peça na engrenagem e de quando era necessário separar aqueles que pensavam daqueles que executavam.
Entretanto, esse contraponto promovido pelo Movimento Ágil pesou demais no extremo oposto da balança: se antes havia nenhuma confiança no trabalhador, hoje confia-se demais!
O cenário começa a ficar perigoso quando somamos à Confiança outros elementos da gestão moderna: O “culto ao erro” e a necessidade de “Autonomia” ao profissional do conhecimento..
Some-se a isso, ainda, uma baixa competência gerencial e de facilitação para lidar com o equilíbrio entre valores e princípios diferentes e temos, então, a fórmula da conivência desastrosa.
O resumo é assim: Precisamos dar autonomia à equipe para fazerem as coisas do jeito que acharem melhor; confiaremos que farão um bom trabalho; mas caso não façam, precisamos tolerar os erros e seguir neste processo de aprendizado contínuo.
Esse cenário não é ruim por si só, mas você se surpreenderia com a quantidade de empresas que estão buscando a “utopia Ágil” e negligenciando as etapas para se chegar lá. (Seja lá onde for 🙂 )
De fato, não há problemas em confiar, se estiverem presentes as perspectivas necessárias; não há problemas em dar autonomia, se houver um arranjo com profissionais experientes; não há problema em criar um ambiente tolerante ao erro, se funcionarem bem os processos de melhoria contínua.
Perceba, portanto, que há uma configuração que vai além da equipe, passando por uma boa gestão funcional e de facilitação. Agora pergunte-se se de fato estes condicionais estão presentes na sua organização?
Provavelmente será uma jornada, porém Confiança, por si só, é frágil e poderá ser catastrófica em algum momento dependendo do grau de miopia do arranjo de profissionais atuantes, incluindo, neste balaio, a gestão.
Assim, talvez o maior mecanismo de defesa e contrapeso no balanceamento da Confiança seja ter a pele em jogo e promulgar fortemente o sentimento de Ownership (sentir-se dono). Não é fácil fazê-lo e geralmente envolve atrelar bônus e ônus aos resultados, mas talvez seja o melhor meio para evitar que todos se acomodem atrás do dinheiro “infinito” da empresa.